quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

As estórias que Vincent contava ao pequeno Tim Burton






Tim Burton teve uma infância peculiar. Passava seu tempo lendo contos de Edgar Allan Poe e vendo inúmeros filmes de terror. Gabaritou dos grandes clássicos aos mais obscuros de baixo orçamento. Seu grande ídolo nessa importante fase foi o ator americano com pinta de europeu Vincent Price.

Com seus vinte e poucos anos, Burton passou um breve período na Disney como assistente. Em pouco tempo, desejou criar algo que fugisse do estilo dócil e perfeito do estúdio. Uma obra mais pessoal, livre. Resumindo, um filme sombrio, assimétrico e com seu peculiar toque de humor. Desse anseio nasceu sua primeira obra de maior relevância, uma homenagem ao seu ator preferido: Vincent curta metragem de 1982.

Com jeitão auto biográfico, o curta conta a estória de Vincent Malloy, um garoto de sete anos que passa boa parte do tempo vivendo num universo particular. Nele, o herói é ele mesmo numa versão infantil de Vincent Price. Passando dias sombrios em seu sinistro castelo, está alma atormentada vive em meio a bizarras experiências genéticas, cães zumbis e a escuridão. Isso narrado poeticamente pelo próprio Price.

Após o relativo sucesso desse curta, veio Os fantasmas se divertem, Batman 1 e 2, Edward mãos de tesoura e o resto nós já conhecemos. Sou grande fã do Tim Burtom desde essa época. Acho, que Os fantasmas se divertem de 1987 ainda é um dos seus melhores filmes. Ali aconteceu sua grande estréia, nesse filme que fomos apresentados ao seu estilo único de contar uma história, tanto a narrativa como em sua maravilhosa direção de arte.

Criei essa peça para contar como eu imagino que tudo isso tenha acontecido nesse universo particular do diretor. Tomando a liberdade de beber da fonte Tim Burton na direção de arte, eu mostro o velho Vincent Price dramatizando algum sombrio conto de Edgar Allan Poe ao impressionado e fértil Vincent/Tim. Alimentando sua cabeça com imagens que mais tarde virariam fantásticos filmes.

Obs: Price também atuou em ‘’Edward mãos de tesoura’’, era o idoso cientista que havia criado o Edward.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Um bom vilão




Um vilao não segue receita definida ou padrão. Ele está disfarçado das mais diferentes formas. Listando alguns dos vilões memoráveis do cinema, observei como eles se destacam por características completamente distintas: a ingenuidade de Norman Bates, o histrionismo do Curinga, o teor fantástico do temível Davy Jones, o fanatismo de John Doe, a erudição do Dr. Hannibal Lecter, a gentileza de Hans Landa ou a paternalidade de Jack Torrance. O perigo pode estar em qualquer lugar.

Um dos últimos filmes que me marcou pela crueldade de seu vilão, foi no brilhante filme dos irmãos Cohen, Onde os fracos não tem vez, na minha opinião um dos melhores filmes da dupla. Tem uma pegada dos Western Spaguetti de Sergio Leone que dita o ritmo do filme. Mas calma mulheres, não tem nada a ver com aqueles chatos filmes de bangue bangue, onde os heróis estão sempre barbeados e as mulheres tem dentes perfeitos. Onde os fracos não tem vez flerta com a atmosfera realista, tensa, emergencial e quente dos filmes do italiano.

É nesse clima que conhecemos Anton Chigurh. Um misterioso forasteiro. Frio caçador de recompensas, Chigurh foi contratado para reaver uma mala com milhares de dólares. Obviamente, nosso herói esta com essa grana toda, e vai acabar se arrependendo de ter achado essa pequena fortuna. O filme mostra esse temível mercenário sempre um passo atrás de sua caça. Implacável, sagaz, assustador e completamente louco.

Uma das grandes atuações dos últimos anos, Javier Bardem mostra que é inteligente ao compor seu vilão. Nunca se entrega aos tentadores exageros que seu personagem oferece, vai da relativa normalidade ao último grau da insanidade numa leve mudança de olhar. Um papel tão fascinante, que o público torce para que ele apareça. Apareça e faça alguma coisa estranha, violenta, ou trave um diálogo marcado pela tensão e crueza. Qualquer coisa está valendo.

Seu toque de mestre, foi sem dúvida, em optar por aquele corte de cabelo (que de uma forma estranha me lembra muito o cabelo do perturbado Danny, do Iluminado). Numa entrevista ele disse algo como: um cara que sai de casa com esse tipo de cabelo não é muito normal. Algo de muito estranho ele tem. Raciocínio simples e brilhante. Aposto que muitos atores pensariam numa óbvia cicatriz, dentes podres, um olhar demente ou qualquer ''detalhe'' que escreva na testa, ''sou perigoso, cuidado comigo''.

Por achar tão rica e interessante essa criação de personagem, que fui inspirado à produzir a peça mostrada acima.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Hendrix, Zap Comix e HQs underground





Nesse final de ano recebi uma encomenda dos sonhos: Jimi Hendrix. Faça como achar melhor. ''ótima escolha, senhor. Volte sempre.'' Modelei o guitarrista fazendo o que eu achava melhor, e para produzir o fundo da peça queria fazer algo diferente. Nada que remetesse diretamente ao Jimi. Eu queria que a arte de fundo trouxesse a atmosfera de sua música. Para isso, tive que pesquisar na Zap Comix que tenho aqui em casa.

Essa revista nasceu pelas mãos de Robert Crumb, (artista tão importante nessa época que eu não conseguiria resúmi-lo em um parágrafo) ele conseguiu reunir as mentes de artistas (normalmente marginais) que pensavam de maneira parecida, porém se manifestavam com traços bem diferentes num só periódico.

Como resumi Bill Griffith ''Crumb falou com todo mundo, e teve culhões para fazer esses gibis. Reiventou o gibi. Tomou isso como outros de sua geração tomaram a música. É uma das poucas pessoas que literalmente se tornaram o ponto de partida para todo um movimento. Crumb teve a grande visão. A visão ardente''.

Foi revendo essa coletâneas de obras que eu me deparei na página 93 com uma ilustração de Robert Williams. Muito bonita, bastante expressiva, preto e branco (algo bem diferente que as imagens coloridas que remetem diretamente ao Jimi), perfeita para a proposta da peça. Era exatamente o que eu procurava.

Para quem curte o Hendrix, os anos 60, movimento underground ou quadrinhos, a Zap Comix é leitura obrigatória. Leitura não, tenha um exemplar em casa que vale a pena.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

As Perturbações



Me recordo perfeitamente quando estava indo para Campinas em meados do ano passado. Estava viajando para resolver alguns detalhes da produção do Mr. Richards. Para me dar uma força nessa tarefa, convidei um amigo meu, o Gabriel. Já havíamos nos perdido horrores para chegar até Campinas, mas mesmo assim não parávamos de falar sobre os diferentes projetos do estúdio. E os diferentes rumos que ele poderia tomar.

Em algum momento começamos a falar de alguns personagens que me perseguem desde meus 12/13 anos. São uns caras meio truculentos, fantasiados de bichos inocentes, sempre mau humorados, normalmente fumando um cigarro. Eu desenhava na carteira da escola, no caderno nas aulas (principalmente nas de química e matemática), no cursinho, depois na faculdade e no trabalho. Ainda no fim dos anos 90, um dos meus primeiros bonecos foi um bigodudo, vestido de coelho cor de rosa fumando um charuto. Está até hoje na cozinha da casa do meu pai, inclusive. Mas por que isso?

Foi ai que surgiu um insight. Esses caras são minhas perturbações. Eles me acompanham há tantos anos, sinto que até os conheço. São fantasmas que reaparecem de tempos em tempos. O Gabriel, sempre ligeiro, me sugeriu, ''cara, voce deveria fazer uma série, esses caras fazem parte da sua história''. Nunca tinha visto por esse prisma. De fato, eles precisavam ser exteriorizados urgentemente.

Comecei a pensar porque eles estavam com aquela fantasia, e porque desse mau humor eterno. Foi aí que outras peças se encaixaram. Revendo minha pasta de desenhos, eu percebi, que além dos caras fantasiados, determinados personagens se repetiam no decorrer de todos esses anos. Eles também me perturbavam.

Assim nasceu a série ''Perturbações''. Eu montei na minha cabeça uma estória onde todos esses personagens se cruzavam (ou eles montaram para mim?), os desenhos que eu observei que se repetiram a exaustão, eu dediquei um capítulo. Ao todo, cinco perturbações ganharam um capítulo nessa saga. Foi assim que pude dar um sentido maior para suas existências.

Algo que fosse além das velhas páginas do caderno de química.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Grande influência



Bom, primeira postagem, vamos lá.
Nunca fui um desenhista grande coisa, sempre tive o cartoon como predileção de estilo, pois achava mais fácil de fazer e sempre preferi produzir coisas que me fizessem rir. Fui influenciado a desenhar na minha infância pelo Ziraldo, Mauricio de Souza e os muitos desenhos que assistia. Na adolescência comecei a tomar gosto pela modelagem, mas ainda desenhava, agora influenciado por >Norman Rockwell, Robert Crumb e principalmente pelo incomparável Laerte.

Conheci a obra do Laerte com uns 12 anos. Me apaixonei pelo seu traço e principalmente pelo seu estilo de narrativa. Um tipo de humor que só ele sabe fazer, é único. Uma mistura de fina ironia, traços econômicos e certeiros, personagens cotidianos em situações absurdas, ou personagens absurdos em situações cotidianas. Não sei. Difícil definir esse cara.

Escolhi falar dele na minha primeira postagem, pois foi lendo sua obra nos gibis e sua tiras no jornal que eu pensei: taí o que eu quero fazer da vida. Meu sonho agora era me expressar como o Laertão. Com estilo próprio, autêntico, fazendo o que gosta e trazendo humor e arte para o dia a dia das pessoas.