sábado, 6 de fevereiro de 2010

As Perturbações



Me recordo perfeitamente quando estava indo para Campinas em meados do ano passado. Estava viajando para resolver alguns detalhes da produção do Mr. Richards. Para me dar uma força nessa tarefa, convidei um amigo meu, o Gabriel. Já havíamos nos perdido horrores para chegar até Campinas, mas mesmo assim não parávamos de falar sobre os diferentes projetos do estúdio. E os diferentes rumos que ele poderia tomar.

Em algum momento começamos a falar de alguns personagens que me perseguem desde meus 12/13 anos. São uns caras meio truculentos, fantasiados de bichos inocentes, sempre mau humorados, normalmente fumando um cigarro. Eu desenhava na carteira da escola, no caderno nas aulas (principalmente nas de química e matemática), no cursinho, depois na faculdade e no trabalho. Ainda no fim dos anos 90, um dos meus primeiros bonecos foi um bigodudo, vestido de coelho cor de rosa fumando um charuto. Está até hoje na cozinha da casa do meu pai, inclusive. Mas por que isso?

Foi ai que surgiu um insight. Esses caras são minhas perturbações. Eles me acompanham há tantos anos, sinto que até os conheço. São fantasmas que reaparecem de tempos em tempos. O Gabriel, sempre ligeiro, me sugeriu, ''cara, voce deveria fazer uma série, esses caras fazem parte da sua história''. Nunca tinha visto por esse prisma. De fato, eles precisavam ser exteriorizados urgentemente.

Comecei a pensar porque eles estavam com aquela fantasia, e porque desse mau humor eterno. Foi aí que outras peças se encaixaram. Revendo minha pasta de desenhos, eu percebi, que além dos caras fantasiados, determinados personagens se repetiam no decorrer de todos esses anos. Eles também me perturbavam.

Assim nasceu a série ''Perturbações''. Eu montei na minha cabeça uma estória onde todos esses personagens se cruzavam (ou eles montaram para mim?), os desenhos que eu observei que se repetiram a exaustão, eu dediquei um capítulo. Ao todo, cinco perturbações ganharam um capítulo nessa saga. Foi assim que pude dar um sentido maior para suas existências.

Algo que fosse além das velhas páginas do caderno de química.

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