quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Um bom vilão




Um vilao não segue receita definida ou padrão. Ele está disfarçado das mais diferentes formas. Listando alguns dos vilões memoráveis do cinema, observei como eles se destacam por características completamente distintas: a ingenuidade de Norman Bates, o histrionismo do Curinga, o teor fantástico do temível Davy Jones, o fanatismo de John Doe, a erudição do Dr. Hannibal Lecter, a gentileza de Hans Landa ou a paternalidade de Jack Torrance. O perigo pode estar em qualquer lugar.

Um dos últimos filmes que me marcou pela crueldade de seu vilão, foi no brilhante filme dos irmãos Cohen, Onde os fracos não tem vez, na minha opinião um dos melhores filmes da dupla. Tem uma pegada dos Western Spaguetti de Sergio Leone que dita o ritmo do filme. Mas calma mulheres, não tem nada a ver com aqueles chatos filmes de bangue bangue, onde os heróis estão sempre barbeados e as mulheres tem dentes perfeitos. Onde os fracos não tem vez flerta com a atmosfera realista, tensa, emergencial e quente dos filmes do italiano.

É nesse clima que conhecemos Anton Chigurh. Um misterioso forasteiro. Frio caçador de recompensas, Chigurh foi contratado para reaver uma mala com milhares de dólares. Obviamente, nosso herói esta com essa grana toda, e vai acabar se arrependendo de ter achado essa pequena fortuna. O filme mostra esse temível mercenário sempre um passo atrás de sua caça. Implacável, sagaz, assustador e completamente louco.

Uma das grandes atuações dos últimos anos, Javier Bardem mostra que é inteligente ao compor seu vilão. Nunca se entrega aos tentadores exageros que seu personagem oferece, vai da relativa normalidade ao último grau da insanidade numa leve mudança de olhar. Um papel tão fascinante, que o público torce para que ele apareça. Apareça e faça alguma coisa estranha, violenta, ou trave um diálogo marcado pela tensão e crueza. Qualquer coisa está valendo.

Seu toque de mestre, foi sem dúvida, em optar por aquele corte de cabelo (que de uma forma estranha me lembra muito o cabelo do perturbado Danny, do Iluminado). Numa entrevista ele disse algo como: um cara que sai de casa com esse tipo de cabelo não é muito normal. Algo de muito estranho ele tem. Raciocínio simples e brilhante. Aposto que muitos atores pensariam numa óbvia cicatriz, dentes podres, um olhar demente ou qualquer ''detalhe'' que escreva na testa, ''sou perigoso, cuidado comigo''.

Por achar tão rica e interessante essa criação de personagem, que fui inspirado à produzir a peça mostrada acima.

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